sexta-feira, 14 de março de 2008

Adeus à pátria




Adeus, oh Pátria amada,
Terra saudosa, onde eu abri meus olhos
Pela vez prima ao sol americano;
Onde nos braços maternais suspenso,
O teu amor co'a vida
No albor dos anos meus fruí gostoso.

Oh margens do Janeiro,
Eu me ausento de vós com mágoa e pranto!
Adeus, brilhante céu da terra minha!
Adeus, oh serras que vinguei difícil!
Adeus, sombrias várzeas,
Que vezes passeei meditabundo.

Adeus, augustas torres
Do templo, onde lavei-me do pecado!
O som funéreo dos sagrados bronzes
Ainda vem magoar os meus ouvidos,
E n'alma despertar-me
Tristíssimas, cruéis reminiscências.

Eis ali a montanha
Cujos pés beija o mar que em flor se esbarra.
Quantas vezes ali triste, sentado,
Minha alma no infinito se espraiava,
Os olhos vagueando
Sobre este mar, que deve hoje levar-me!

Sim, eu te deixo, oh Pátria;
E deixo-te lutando co'as procelas,
Que no teu horizonte se abalroam.
Ah! quanta dor o coração me punge,
Por ver alguns teus filhos,
Baldos de pundonor, como te olvidam.

[...]

Rio de Janeiro, 3 de julho de 1833

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